Importância do que realmente importa
Nunca irei me esquecer da sensação que tive ao tocar o telefone e escutar: - é da casa de Dona Leda? Aqui é da central de transplantes...meu coração pulou pela boca, não sei a razão mas senti que seria naquele dia. A probabilidade de ser era pequena, tantas foram as ligações e logo chegavam as frustrações. Não consigo me lembrar da quantidade de vezes que fomos e voltamos do hospital na esperança de que chegasse o tão esperado dia.
Mas realmente, por um acaso do destino, no dia de São João, 24 de junho de 2005, ela iria nascer novamente, era um presente de Deus, e como diz Dra. Kellen, “presente de Deus não se recusa”. Ao olhar para ela, notei uma imensa felicidade misturada a uma dúvida imensa. Vi em seus olhos um choro baixinho, um choro que me tocou de tal forma que não pude me conter. Nunca me senti tão pequena, tão insignificante. Não podia fazer nada para salva-la desta angústia, e o pior, nada podia fazer para me livrar do meu medo, medo de perdê-la.
Ao deita-la na maca, a vi menor do que costumava ser, teus lábios tão trêmulos, tuas mãos nas minhas, e o teu olhar que parecia implorar por orações, que parecia confiar nas minhas orações para que tudo desse certo. Nunca passei tanto tempo de incertezas, a incerteza de não te ter ao meu lado, de rir para mim, de me abraçar sempre, toda hora, de dizer que me ama, de me desejar todas as noites um tão carinhoso “durma com os anjos”, de acordar com esse lindo sorriso tão inocente e otimista e me desejar um excelente bom dia, de me olhar com um olhar tão acolhedor que é impossível ter vontade de me afastar de você. Enfim, medo de não ter aproveitado o tudo que eu podia ao teu lado. Parei para refletir nas vezes em que dei importância a coisas tão pequenas. Roupas que não serviam, gorduras imaginárias tão valorizadas. Ausência de tempo para pessoas que amo e que são tudo para mim. E tive medo de sentir medo novamente, e por mais que voltasse a valorizar tudo o que não tem importância, naquele momento eu pude ver e experimentar na vida o que realmente importa.
Chrystiane Guedes

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